terça-feira, 24 de junho de 2014

O Grotesco Feminino: Risco, Excesso e Modernidade


Mary Russo



Mary Russo analisa o grotesco na cultura, sem catalogar figuras grotescas ou buscar seu modelo ideal, tomando como base de estudo os textos de Sigmund Freud, Mikhail Bakhtin, as fotografias 'bulímicas' de Cindy Sherman, a literatura pós-moderna de Angela Carter, e os filmes de Ulrike Ottinger e David Cronenberg. Entretanto, ela própria se vê obrigada a citar alguns dos estereótipos do grotesco: a Mulher-Barbada, a Medusa, a Bruaca, a Dona Gorda, até a associação do grotesco com as próprias feministas, das suffragettes às megeras queimadoras de sutiãs.

Dividido em capítulos inter-relacionados, O grotesco feminino trata das relações do grotesco e do modernismo, aberrações físicas (Freaks, Freak Orlando, Orlando), a mulher mutante e 'os corpos possíveis' (Gêmeos e as mulheres mutantes) e a moda e os modelos de corpo (de baixo para cima), além de um último capítulo que reitera os principais pontos do livro (Reestruturando o espetáculo).  

Bibliografia: RUSSO, Mary. O Grotesco Feminino: risco, excesso e modernidade. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

terça-feira, 10 de junho de 2014

O humor na pornochanchada



A pornochanchada foi um gênero do cinema brasileiro que fez muito sucesso na década de 1970, com produções direcionadas às classes populares e que apresentavam um estilo grotesco caracterizado pelos excessos: gestos obscenos, linguagem chula, sexo sugerido e títulos apelativos. Recebeu esse nome por trazer elementos dos filmes do gênero como chanchada, conhecido pelo erotismo que fazia com que fosse comparado ao gênero pornô, embora não houvesse cenas de sexo explícito nos filmes.

De baixo investimento e alta rentabilidade, a pornochanchada contava com um público majoritariamente masculino e visava legitimar "os valores prezados pela burguesia, em  especial a dominação do macho sobre a fêmea, do rico sobre o pobre" (GIORA In SANTOS; ROSSETTI, 2012, p.179). As produções, geralmente realizadas na Boca do Lixo, região de prostituição existente na zona central da cidade de São Paulo, receberam a influência das comédias italianas e filmes norte-americanos, além de elementos da cultura popular brasileira, principalmente o teatro de revista, o circo e o rádio.

Pornochanchada A banana mecânica (1974).
 Eram comédias de costumes responsáveis pela produção do riso grotesco provocado pelo cômico e voltado apenas ao entretenimento, com base no sarcasmo e na grosseria. Um humor que também estava presente na vida cotidiana e que era reproduzido nas telas dos cinemas brasileiros: "frustrações e tensões do cotidiano eram, nessas salas do cinema, aliviadas. As pornochanchadas floresceram justamente no momento culminante da censura política no país." (p. 185).

A denominação é oriunda dos termos chanchada, derivada do espanhol chancho, que significa porco - uma alusão a baixa qualidade da produção, tratada na época como sinônimo de porcaria - e pornô, pela exibição excessiva da nudez. As pornochanchadas tiveram então como predecessoras as chanchadas, produzidas entre as décadas de 1930 e 1960 e nas quais prevalecia o riso com doses de erotismo. Seu subgênero ganha espaço em meados de 1970, com ênfase maior nas cenas de nudez: a pornochanchada, que não era sinônimo de filme pornográfico apesar dos títulos que recebiam geralmente serem ambíguos e apelativos, "sugeria, enquanto os filmes pornográficos mostravam. São este últimos os responsáveis pelo  desaparecimento da pornochanchada." (p. 182).

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